um diário dos dias inúteis
07
Fev 12
publicado por desempregado freelancer, às 12:04link do post

Existem poucos deveres sacrossantos para um desempregado, e um deles é o da apresentação quinzenal nos serviços do IEFP sitos na Junta de Freguesia da área de residência.

Esta apresentação quinzenal consiste simplesmente em apresentar um papelinho que contém a nossa identificação, a data da visita anterior e a data da visita que ocorre nesse momento, papelinho esse que é substituido por um outro, contendo a nossa identificação, a data desta ocorrência, e a data da próxima apresentação, que fica agendada para daqui a quinze dias. Não há mais nada a dizer acerca deste processo, a não ser que é totalmente parvo e fruto de uma mente tolinha que não sabe o que há de fazer aos que vagueiam Portugal fora, entre envios de curricula.

 

 

Mas esta tal apresentação quinzenal não seria digna de um post, não fosse a sua total inutilidade torná-la no que é na realidade: um termo de indentidade e residência. Com efeito, parece-me que um desempregado vê assim a sua pesada e miserável pena traduzida numa coacção dos serviços. Mostre-se que é vivo, que não anda na biscatada, e que não se ausentou do país ou da área de residência sem que nós saibamos. Bom, a única coisa que se prova aqui, supondo alguma atenção na mais que enfadada funcionária que, dia após dia, revê centenas, senão milhares destes papelinhos, e marca data para daqui a quinze, atenção essa suficiente para verificar que o fulano da fotografia do bilhete de identidade sou eu, que o nome que aí está é o mesmo que está no papelinho, e que a data de nascimento confirma que existem boas possibilidades de não haver marosca.

Lamento, senhores do IEFP, mas não acredito que, em dois segundos sem olhar para mim, todas estas coisas sejam verificadas.

 

Este termo de identidade e residência, via apresentação quinzenal, é uma humilhação.

Nós, os desempregados, proscritos que somos já, a julgar pela verborreia de alguns futuros desempregados, somos assim obrigados a alinhar numa fila paralela à do atendimento geral da Junta de Freguesia, e responder não sei quantas vezes aos que chegam "Não, para isso a fila é aquela", "E esta é para quê?", "Esta é a da apresentação quinzenal", "Ah... obrigado", para os ver ir para a outra fila com ar de freira piedosa, olhar cúmplice de compreensão da miséria alheia, mas enfim, se foram condenados por alguma coisa foi, que onde há fumo há fogo.


Subscrevo a inutilidade do processo, pois faço parte do grupo daqueles que são obrigados a quebrar o anonimato e dizer "estou aqui" após ter andado anos, caladinho, cordato e sem que ninguém desse por mim, a contribuir para o estado. Que estado? De direito? Em vez disso, agora, pagam-me para ser, social e produtivamente, inútil.
Percival a 21 de Fevereiro de 2012 às 13:53

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